“Eu sei quem eu sou e quem posso ser, se eu desejar”. Miguel de Cervantes

sábado, 28 de fevereiro de 2015

10 melhores livros de contos brasileiros

Uma seleção com Machado de Assis, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e outros grandes nomes da tradição brasileira de histórias curtas

Para o escritor argentino Júlio Cortazar (1914-1984), conto é aquele texto que corre em poucas linhas e em alta velocidade narrativa, capaz de nocautear o leitor com seu impacto dramático concentrado. O brasileiro Machado de Assis (1839-1908) também tem sua própria definição para este gênero: "O tamanho não é o que faz mal a este gênero de histórias. É naturalmente a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos". Como se vê, escritores de peso já tentaram desvendar este gênero literário caracterizado pela pequena extensão.
O conto é um dos tipos de textos mais antigos e versáteis da Literatura. Há o conto de fadas, o conto maravilhoso, o conto fantástico, etc... Em todos eles, o narrador, por meio de descrições das personagens, do cenário, do tempo, conduz o conflito que, rapidamente, se desenvolve e caminha para seu final, surpreendendo o leitor. "Narra-se uma única ação, que compreende tudo o que acontece na história: os fatos e os atos envolvendo as personagens", diz Claudio Bazzoni, assessor da secretaria municipal de Educação de São Paulo para a disciplina de Língua Portuguesa.
Um número infindável de escritores se aventurou neste gênero. Os britânicos Charles Dickens (1812-1870) e Virginia Woolf (1882-1941), o argentino Jorge Luís Borges (1889-1986), o russo Nikolai Gogol (1809-1852) são considerados expoentes do gênero na Literatura universal. O Brasil também tem muitos herdeiros dessa longa tradição. Na nossa produção, destacam-se os nomes do já citado Machado de Assis, bem como Lima Barreto (1881-1922), Mário de Andrade (1892-1945), Antônio Alcântara Machado (1091-1935), Guimarães Rosa (1908-1967), Monteiro Lobato (1882-1948), Clarice Lispector (1920-1977), Lygia Fagundes, Dalton Trevisan e Nelson Rodrigues (1912-1980).

Segue a lista de 10 Contos:


Autor: Mário de Andrade
Editora: Saraiva
Obra póstuma publicada dois anos após a morte do autor, evidencia a maturidade artística de Mário de Andrade. Em Vestida de Preto, Juca, em recupera em flashback, as primeiras experiências amorosas com sua prima Maria, bruscamente interrompidas por uma tia de ambos. Já Primeiro de Maio, narra o conflito de um jovem operário interior, identificado como "chapinha 35", com o momento histórico do Estado Novo. O homem vê passar o Dia do Trabalho, experimentando reflexões e emoções que vão da felicidade à amargura. Mesmo assim, sonha com o dia em que haverá liberdade para festejar a efeméride sem repressão.

2. Os 100 Melhores Contos Brasileiros do Século 


Organizador: Ítalo Moriconi
Editora: Objetiva
Nesta antologia, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ítalo Moriconi nos leva a um delicioso passeio pelas melhores histórias curtas já produzidas no Brasil entre 1900 e o fim dos anos 90. O livro traz um vasto panorama de cem anos de produção literária, a partir do trabalho de várias gerações de escritores, com nomes como João do Rio (1881-1921), Clarice Lispector, Lima Barreto, Graciliano Ramos (1892-1953), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Fernando Sabino (1923-2004), Hilda Hilst (1930-2004), Dalton Trevisan, Moacyr Scliar (1937-2011), Lygia Fagundes Telles, Luiz Fernando Veríssimo, Raduan Nassar e Nélida Piñon, entre outros. 



Autor: Antônio Alcântara Machado
Editora: Saraiva
"Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro. Eta salame de mestre!". Assim, Alcântara Machado descreve Gaetaninho, protagonista do conto homônimo. Ele é um garoto simples, bom jogador de futebol, cujo sonho é andar de carro na São Paulo do início do século XX. O sonho só se realiza quando o pobre menino morre, atropelado. No conto Sociedade, um quatrocentão paulistano casa a filha com um novo rico italiano, passando por cima de preconceitos para salvar a família da bancarrota. Na "negociação" com Salvatore Melli, pai do noivo, o humor fica por conta dos diferentes registros de fala. Enquanto o quatrocentão tem um português impecável, Melli fala o idioma de forma sofrível, pontuando suas intervenções por expressões em italiano, como "capisce". Os 11 contos deste volume fazem uma espécie de crônica de costumes da vida na capital paulista, com linguagem coloquial, que valoriza os erros do homem simples do povo e as expressões dos imigrantes italianos. 



Autor: João Guimarães Rosa
Editora: Saraiva
Esta obra-prima de Guimarães Rosa traz contos que narram os costumes e a linguagem da gente de Minas Gerais, mas extrapolam a cor local. Em A Terceira Margem do Rio, um homem abandona a família para viver no meio de um riacho, convidando o leitor a uma reflexão metafisica sobre o sentido da vida. Já Luas de Mel narra a fuga de um casal apaixonado, que é abrigado por um senhor de meia-idade de nome Joaquim Norberto. O amor dos jovens acaba inspirando o homem, que revive momentos de paixão e envolvimento com sua velha senhora, Sá Maria-Andreza. 

5. Os 50 Melhores Contos de Machado de Assis


Autor: Machado de Assis
Editora: Cia das Letras
Uma mulher tão obcecada em esconder a idade que impede a filha de se casar. Um compositor de melodias populares que deseja desesperadamente escrever música clássica. Um rapaz de quinze anos que se deixa empolgar pela visão dos braços de uma mulher mais velha. Essas são algumas das personagens e das situações desta compilação de contos de Machado de Assis, que alterna textos famosos a outros menos conhecidos.

6. O Vampiro de Curitiba


Autor: Dalton Trevisan
Editora: Record
A coletânea narra a história de Nelsinho, um jovem que vaga pelas ruas de uma Curitiba degradada e sombria em busca de sexo e afeto. Ele assedia velhinhas, viúvas, estudantes e prostitutas, enfim, todo e qualquer rabo de saia que atravesse seu radar. Mas o jovem, tal qual um vampiro, é vítima da repetição infinita de seus desejos, o que só piora seu sentimento de solidão. 

7. Felicidade Clandestina


Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Os 25 textos desta antologia tratam de temas diversos, como a infância, o amor e as questões da alma por meio de recursos como a narrativa em fluxo de consciência, uma tentativa de reproduzir o pensamento dos personagens. Os contos possuem tom autobiográfico, trazendo, por exemplo, recordações da infância da autora em Recife - mote do texto que dá nome ao livro.

8. Elenco de Cronistas Modernos


Autor: Vários autores
Editora: José Olympio
A antologia reúne 60 crônicas de nomes como Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz e Rubem Braga. Entre as histórias, um pouco de tudo: considerações literárias, flagrantes do cotidiano e lembranças da infância. 

9. Antes do Baile Verde


Autor: Lygia Fagundes Telles
Editora: Cia das Letras
Reunião de narrativas produzidas entre 1949 e 1969, contém uma seleção diversa e instigante, que alterna temas como os conflitos amorosos e a tensão entre o desejo e a consciência moral. Em O Menino, uma infidelidade conjugal é observada pelos olhos de um garoto que vai ao cinema com a mãe.
Já em Venha Ver o Pôr do Sol, um rapaz leva sua ex-namorada a um jazigo de família abandonado. No texto A Caçada, um homem observa os desenhos de uma velha tapeçaria e mergulha na cena ali retratada como se tivesse participado dela em outra vida.

10. João do Rio - Antologia de Contos


Autor: João do Rio
Editora: Ibep Nacional
Jornalista e escritor, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto foi um dos principais narradores da sociedade carioca do início do século XX, o que lhe rendeu a alcunha de João do Rio. Este volume reúne os principais contos do escritor, que soube traduzir "a alma encantadora das ruas" - nome de uma de suas obras, aliás, como poucos. Na obra, ele narra a alteração das feições da cidade, que passa de corte à capital federal.

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