A Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de
Figueiredo, em Nova Olinda-CE, que atende a alunos de três municípios
(Altaneira, Nova Olinda e Santana do Cariri), promoveu durante todo o dia de
quarta-feira, 08, uma série de atividades visando debater acerca do Dia
Internacional da Mulher.
Entre rodas de conversas, exibição de vídeos, debates propostos e
protagonizados pelo Grêmio Estudantil desta instituição de ensino acerca de
temas que afligem a mulher na sociedade contemporânea, o professor e ativista
das causas negras pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Nicolau
Neto atendendo a convite, conversou com alunas e alunos acerca da construção e
simbologia do 8 de março, das lutas femininas e suas conquistas, bem como dos
desafios enfrentados ainda hoje pela classe feminina para sua afirmação em uma
sociedade preconceituosa.
Nicolau iniciou sua fala discorrendo acerca da origem socialista do 08
de março, vindo a destacar a Segunda Conferência Internacional das Mulheres
Socialistas ocorrida em 1910, em Copenhague, na Dinamarca e o papel decisivo de
Clara Zetkin que junto a outras militantes deram os primeiros passos para
instituir oficialmente um dia internacional das mulheres.
O professor, entretanto, explicou que não tinha a intenção de esgotar o
assunto com tal referência, pois há registros de outros momentos anteriores e
posteriores ao elencado. Todos eles tinham como participantes mulheres que
dedicaram tempo na luta por igualdade econômica e política na sociedade, além
de denunciarem a exploração e a opressão das mulheres.
Foram dessas lutas ainda que ecoaram gritos na defesa do voto feminino,
da igualdade dos sexos e da autonomia das mulheres, como o que ocorreu em 1908
em Chicago, nos Estados Unidos. Foi nesse cenário, inclusive que tivemos a
comemoração do primeiro dia da mulher. Nessa abordagem da construção do 08 de
março como origem socialistas, Nicolau lembrou ainda da greve de 200 mil
tecelãs russas que saíram as ruas de Petrogrado buscando aumento de salários e
lutando contra a fome.
Em um segundo momento, o professor convidou as alunas Kezia Adjane (3º
“A”), Flávia Barbosa e Millene Santos (3º “D”), Gabriela Alves (3º “C”) e Andrea
Oliveira (Universitária do Curso de Letras da URCA) para participarem da roda de
conversa. Entre os temas, destaque para a desigualdade de gênero, racismo, a
misoginia, violência física e psicológica, representatividade feminina nos
espaços de poder, empoderamento feminino, feminismo, machismo, legalização do
aborto, os impactos que a reforma da previdência irá causar nas mulheres e
lutas dos movimentos feministas no Cariri.
As alunas e os alunos demonstraram maturidade e uma capacidade crítica
invejável nas discussões das temáticas propostas. As condições de trabalhos e o
desemprego também foram frisados. As estudantes afirmaram que a classe feminina
são as que recebem os salários mais baixos, mesmo exercendo, em muitos casos,
os mesmos trabalhos que os homens.
Segundo elas, o Brasil atingiu índices alarmantes de desemprego e ele
vem impactando principalmente as mulheres. Pois são as primeiras a serem alvos
de demissão. Discursos preconceituosos e machistas foram lembrados, como por
exemplo, aquele que afirmam serem elas as causadoras de onerar os setores de
trabalhos ao engravidarem.
As alunas e alunos não pouparam críticas as reformas feitas e as em
andamento pelo governo federal. A reforma do ensino médio, a escola sem partido
e a reforma da previdência foram trazidas para a conversa, tendo como recorte a
questão de gênero. Se a gente não discutir as desigualdades sociais que
alimentam a sociedade na escola, ela perde o sentido.
Precisamos nos posicionar contra essas atrocidades que estão tentando
nos impor. Não queremos morrer trabalhando e não chegar a aposentadoria,
realçaram. O assédio moral, sexual, a cultura do estupro está em todos os lugares,
por isso há necessidade de estarmos hoje clamando por justiça social, por
igualdade de oportunidade e contra a retirada de direitos, disseram.
De igual modo a legalização do aborto que continua um tabu e enfrenta
retrocessos no Congresso Nacional, com a proposta do Direito do Nascituro, que
pretende criar obstáculos para que as vítimas de estupro possam abortar mereceu
atenção delas/es. Para ela, o momento é importante para que haja uma discussão
mais madura e que leve em consideração a ideia da mulher decidir sobre o seu
corpo, sem o controle do Estado. É sabido que as mulheres sofrem cotidianamente
várias violências e são alvos de discursos que as inferiorizam, mas é
necessário que estejamos atentas para as particularidades, para as
especificidades correlacionando-as para as questões de raça/cor.
Esses discursos e as situações elencadas aumentam consideravelmente
quando nos reportamos as mulheres negras. Precisamos ter isso bem nítido, se
quisermos de fato romper esse cenário desolador e construirmos uma sociedade
mais humana.
O professor Nicolau trouxe ainda para a conversa as lutas das mulheres
na atualidade, com destaque para as protagonizadas pelo Conselho Municipal do
Direitos da Mulher Cratense (CMDMC) e a Frente de Mulheres dos Movimentos de
Mulheres que esse ano tiveram como bandeira de luta Mulheres: Reforma da
Previdência e Retirada de Direitos.
Na avaliação de Nicolau, o momento contrariou a grande maioria dos espaços
de poder que se arvoram do Dia Internacional da Mulher para reforçar preconceitos
e estereótipos, além de tecerem falsas homenagens apenas neste dia. As alunas e
alunos da escola rasgaram o verbo e aproveitaram a oportunidade para
reivindicar direitos.
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